Respondendo a questão nove do exercício do texto
anterior, sim! Machado de Assis escreveu crônicas. Leia o texto de Machado de
Assis, a biografia do autor e em seguida o texto de Luis Fernando Veríssimo.
Texto 1
O
nascimento da crônica.
Há um meio certo de começar
a crônica por uma trivialidade. É dizer: Que calor! Que desenfreado calor!
Diz-se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um touro, ou
simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenômenos
atmosféricos, fazem-se algumas conjeturas acerca do sol e da lua, outras sobre
a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e La glace est rompue; está
começada a crônica.
Mas, leitor amigo, esse
meio é mais velho ainda do que as crônicas, que apenas datam de Esdras. Antes
de Esdras, antes de Moisés, antes de Abraão, Isaque e Jacó, antes mesmo de Noé,
houve calor e crônicas. No paraíso é provável, é certo que o calor era mediano,
e não é prova do contrário o fato de Adão andar nu. Adão andava nu por duas
razões, uma capital e outra provincial. A primeira é que não havia alfaiates,
não havia sequer casimiras; a segunda é que, ainda havendo-os, Adão andava
baldo ao naipe. Digo que esta razão é provincial, porque as nossas províncias
estão nas circunstâncias do primeiro homem.
Quando a fatal curiosidade
de Eva fez-lhes perder o paraíso, cessou, com essa degradação, a vantagem de
uma temperatura igual e agradável. Nasceu o calor e o inverno; vieram as neves,
os tufões, as secas, todo o cortejo de males, distribuídos pelos doze meses do
ano.
Não posso dizer
positivamente em que ano nasceu a crônica; mas há toda a probabilidade de crer
que foi coetânea das primeiras duas vizinhas. Essas vizinhas, entre o jantar e
a merenda, sentaram-se à porta, para debicar os sucessos do dia. Provavelmente
começaram a lastimar-se do calor. Uma dia que não pudera comer ao jantar, outra
que tinha a camisa mais ensopando que as ervas que comera. Passar das ervas às
plantações do morador fronteiro, e logo às tropelias amatórias do dito morador,
e ao resto, era a coisa mais fácil, natural e possível do mundo. Eis a origem
da crônica.
Que eu, sabedor ou
conjeturador de tão alta prosápia, queira repetir o meio de que lançaram mãos
as duas avós do cronista, é realmente cometer uma trivialidade; e contudo,
leitor, seria difícil falar desta quinzena sem dar à canícula o lugar de honra
que lhe compete. Seria; mas eu dispensarei esse meio quase tão velho como o
mundo, para somente dizer que a verdade mais incontestável que achei debaixo do
sol é que ninguém se deve queixar, porque cada pessoa é sempre mais feliz do
que outra.
Não afirmo sem prova.
Fui há dias a um
cemitério, a um enterro, logo de manhã, num dia ardente como todos os diabos e
suas respectivas habitações. Em volta de mim ouvia o estribilho geral: que
calor! Que sol! É de rachar passarinho! É de fazer um homem doido!
Íamos em carros!
Apeamo-nos à porta do cemitério e caminhamos um longo pedaço. O sol das onze
horas batia de chapa em todos nós; mas sem tirarmos os chapéus, abríamos os de
sol e seguíamos a suar até o lugar onde devia verificar-se o enterramento.
Naquele lugar esbarramos com seis ou oito homens ocupados em abrir covas:
estavam de cabeça descoberta, a erguer e fazer cair a enxada. Nós enterramos o
morto, voltamos nos carros, às nossas casas ou repartições. E eles? Lá os
achamos, lá os deixamos, ao sol, de cabeça descoberta, a trabalhar com a
enxada. Se o sol nos fazia mal, que não faria àqueles pobres-diabos, durante
todas as horas quentes do dia?
………………………………………………………………………………………
O texto acima foi publicado no livro “Crônicas Escolhidas”,
Editora Ática – São Paulo, 1994, pág. 13, e extraído do livro “As Cem Melhores
Crônicas Brasileiras”, Editora Objetiva – Rio de Janeiro, 2007, pág. 27,
organização e introdução de Joaquim Ferreira dos Santos..
Machado de Assis – Biografia.
Joaquim Maria Machado de Assis é
considerado um dos mais importantes escritores da literatura brasileira. Nasceu
no Rio de Janeiro em 21/6/1839, filho de uma família muito pobre. Mulato e
vítima de preconceito, perdeu na infância sua mãe e foi criado pela madrasta.
Superou todas as dificuldades da época e tornou-se um grande escritor.
Na infância, estudou numa escola
pública durante o primário e aprendeu francês e latim. Trabalhou como aprendiz
de tipógrafo, foi revisor e funcionário público.
Publicou seu primeiro poema intitulado
Ela, na revista Marmota Fluminense. Trabalhou como colaborador de algumas
revistas e jornais do Rio de Janeiro. Foi um dos fundadores da Academia
Brasileira de letras e seu primeiro presidente.
Podemos dividir as obras de Machado de
Assis em duas fases: Na primeira fase (fase romântica) os personagens de suas
obras possuem características românticas, sendo o amor e os relacionamentos
amorosos os principais temas de seus livros. Desta fase podemos destacar as
seguintes obras: Ressurreição (1872), seu primeiro livro, A Mão e a Luva
(1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878).
Na Segunda Fase ( fase realista ),
Machado de Assis abre espaços para as questões psicológicas dos personagens. É
a fase em que o autor retrata muito bem as características do realismo
literário. Machado de Assis faz uma análise profunda e realista do ser humano,
destacando suas vontades, necessidades, defeitos e qualidades. Nesta fase
destaca-se as seguintes obras: Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas
Borba (1892), Dom Casmurro (1900) e Memorial de Aires (1908).
Machado de Assis também escreveu
contos, tais como: Missa do Galo, O Espelho e O Alienista. Escreveu diversos
poemas, crônicas sobre o cotidiano, peças de teatro, críticas literárias e
teatrais.
Machado de Assis morreu de câncer, em
sua cidade natal, no ano de 1908.
Relação das obras:
Romances
Ressurreição - 1872
A
mão e a luva - 1874
Helena - 1876
Iaiá Garcia - 1878
Memórias Póstumas de Brás Cubas -
1881
Quincas Borba - 1891
Dom Casmurro - 1899
Esaú e Jacó - 1904
Memorial de Aires - 1908
Poesia
Crisálidas
Falenas
Americanas
Ocidentais
Poesias completas
Contos
A Carteira
Miss Dollar
O Alienista
Noite de Almirante
O Homem Célebre
Conto da Escola
Uns Braços
A Cartomante
O Enfermeiro
Trio em Lá Menor
Missa do Galo
Teatro
Hoje avental, amanhã luva - 1860
Desencantos
- 1861
O caminho da porta, 1863
Quase ministro - 1864
Os deuses de casaca - 1866
Tu, só tu, puro amor - 1880
Lição de botânica - 1906
O que é Crônica?
Crônica é uma narrativa
histórica que
expõe os fatos seguindo uma ordem cronológica. A
palavra crônica deriva do grego "chronos"
que significa "tempo".
A crônica é uma forma
textual no estilo de narração que tem por base fatos que acontecem em nosso
cotidiano. Por este motivo, é uma leitura agradável, pois o leitor interage com
os acontecimentos e por muitas vezes se identifica com as ações tomadas pelas
personagens.
Você já deve ter lido algumas crônicas, pois estão presentes em jornais, revistas e livros. Além do mais, é uma leitura que nos envolve, uma vez que utiliza a primeira pessoa e aproxima o autor de quem lê. Como se estivessem em uma conversa informal, o cronista tende a dialogar sobre fatos até mesmo íntimos com o leitor.
O texto é curto e de linguagem simples, o que o torna ainda mais próximo de todo tipo de leitor e de praticamente todas as faixas etárias. A sátira, a ironia, o uso da linguagem coloquial demonstrada na fala das personagens, a exposição dos sentimentos e a reflexão sobre o que se passa estão presentes nas crônicas.
Você já deve ter lido algumas crônicas, pois estão presentes em jornais, revistas e livros. Além do mais, é uma leitura que nos envolve, uma vez que utiliza a primeira pessoa e aproxima o autor de quem lê. Como se estivessem em uma conversa informal, o cronista tende a dialogar sobre fatos até mesmo íntimos com o leitor.
O texto é curto e de linguagem simples, o que o torna ainda mais próximo de todo tipo de leitor e de praticamente todas as faixas etárias. A sátira, a ironia, o uso da linguagem coloquial demonstrada na fala das personagens, a exposição dos sentimentos e a reflexão sobre o que se passa estão presentes nas crônicas.
Como exposto acima, há
vários motivos que levam os leitores a gostar das crônicas, mas e se você fosse
escrever uma, o que seria necessário? Vejamos de forma esquematizada as
características da crônica:
• Narração curta;
• Descreve fatos da vida cotidiana;
• Pode ter caráter humorístico, crítico, satírico e/ou irônico;
• Possui personagens comuns;
• Segue um tempo cronológico determinado;
• Uso da oralidade na escrita e do coloquialismo na fala das personagens;
• Linguagem simples.
Portanto, se você não gosta ou sente dificuldades de ler, a crônica é uma dica interessante, pois possui todos os requisitos necessários para tornar a leitura um hábito agradável!
• Narração curta;
• Descreve fatos da vida cotidiana;
• Pode ter caráter humorístico, crítico, satírico e/ou irônico;
• Possui personagens comuns;
• Segue um tempo cronológico determinado;
• Uso da oralidade na escrita e do coloquialismo na fala das personagens;
• Linguagem simples.
Portanto, se você não gosta ou sente dificuldades de ler, a crônica é uma dica interessante, pois possui todos os requisitos necessários para tornar a leitura um hábito agradável!
Texto 2
Saúde
& conselhos
Alguém já disse que, se conselho fosse bom, não seria
dado, seria vendido. Mas isso é um exagero mercantilista, provavelmente reflexo
de uma época em que o mercado é o fator soberano em qualquer tipo de avaliação.
Dar e pedir conselhos faz parte da natureza humana. Aliás, não por outra razão
cada vez surgem mais livros de auto-ajuda, um gênero que em muitas livrarias já
ocupa uma seção especializada (freqüentemente perto de “Esoterismo” ou de New
Age, mas isso é outra história). Essa abundância mostra que não será por falta
de conselhos que deixaremos de ser sadios. Portanto, não pretendo acrescentar
minha contribuição a essa impetuosa torrente. Pretendo, contudo, formular uma
questão: como é que a gente sabe que um conselho será útil?
Primeira regra: um conselho é útil quando ele é objetivo,
quando não é vago. “Não se estresse”, por exemplo, aparentemente é uma boa
recomendação, mas como que é que — num mundo estressante — a gente faz para não
se estressar? Daí a exigência da objetividade. Que freqüentemente pode se
traduzir em números. “Faça exercício”: quanto exercício? Meia hora por dia,
quatro vezes por semana — pode ser uma resposta. A propósito, “fazer” é um
verbo necessário em termos de saúde que é uma coisa comportamental: a gente
“faz” coisas para ficar sadio. E são coisas que normalmente devem ser
repetidas, se possível com certo automatismo: é o hábito. Escovar os dentes é
algo que fazemos assim, automaticamente. Quando o hábito é incorporado à
cultura, ele se transforma num costume. Bom ou ruim, como é o caso do
tabagismo. Segunda regra: um conselho é útil quando leva em conta a necessidade
de prazer. Saúde não é castigo, saúde não é chatice. Como diz a Organização
Mundial de Saúde, saúde é um estado de completo bem-estar — físico, mental, social.
Muitas pessoas têm a idéia de que dieta equivale a suplício. Tal idéia leva à
ansiedade, e ansiedade leva a comer mais, o que leva à obesidade... O círculo
vicioso do castigo. Ora, comer é bom, e é melhor ainda quando é uma coisa
racional — não uma punição. O mesmo pode se dizer do exercício físico. Como é
que a gente escolhe um programa de exercício físico? Começando pela pergunta: o
que eu gosto de fazer? Caminhar, nadar, praticar esporte? Terceira regra: não
há milagres. Não há dietas mágicas, não existem equipamentos de ginástica
capazes de resolver instantaneamente a necessidade de exercício. Há sim, um
milagre, e este é a vida. O resto corre por conta do nosso bom senso e da nossa
imaginação. Inclusive no que se refere à saúde.
SCLIAR, Moacyr. In A Face Oculta, inusitadas e
reveladoras histórias da Medicina. Artes e ofícios. Porto alegre, 2001.
Exercícios:
1) Que gênero textual é apresentado? Quais as características desse gênero?
2) Qual o tema da primeira e da segunda crônica?
3) Atividade de pesquisa e exposição: O seu grupo será apresentado para alguns textos de vários cronistas durante as aulas e vocês farão um trabalho de pesquisa e elaboração de cartazes que será definido pelo professor para exposição no mural da escola.